quinta-feira, 24 de julho de 2014

Tô Falando de Amor, Tô falando de "Nós", o Nós coletivo.

Algumas experiências ruins, relacionadas às relações pessoais, sejam elas de amor, ou amizade, podem ser mais do que um motivo pra chorar até os olhos doerem. Questões que geram esse tipo de reação são importantes pra gerar também reflexão, e nos ajudar a entender esses malditos mecanismos que nos afastam, desmobilizam, e destroem o pouco que havíamos construído rumo a alguma transformação.

Ultimamente muitxs tem falado sobre o pessoal, sobre o privado, sobre o público, o político... E dizem, principalmente, das mulheres, que a vida pessoal é a vida privada. Contudo, me recuso a cair nessa falácia. 

Do auge da minha ingenuidade política e da necessidade de estudo sobre o que quero dizer, penso que a transformação da qual falamos, a construção de outra sociedade passa diretamente por vencer alguns mecanismos e formas de relação que mantém essa sociedade como ela é: desigual, opressora, repressora, onde o individualismo e o desrespeito ao outro (que deixa de ser igual), e o que é diferente, ou que tem uma marca qualquer, deve ser desconsiderado enquanto ser inteligente, autônomo, livre (ainda que relativamente). 

Refletindo sobre questões pessoais, mas NÃO privadas, percebi o quanto é difícil falar sobre o amor, sobre a dor, sobre os sofrimentos diversos da nossa razão que se apaixona e permite ao corpo viver sensações incríveis que nos fazem perder o tino inclusive. Decidi escrever, pra dividir os pensamentos, e quem sabe contribuir com alguém ou alguéns que se vejam, em qualquer uma das peças desse jogo de tabuleiro que eu trago aqui (que são as relações amorosas). Essas reflexões caminham pelo pensar sobre o que nós, xs dos movimentos “de esquerda”, temos feito com nossas relações de amor, de amizade, de companheirismo, de camaradagem. 

Somos seres sociais, portanto estamos influenciadxs pelo que vemos, vivemos, pelo que aprendemos pelo que precisamos saber e o que precisamos fazer. E o fato de sabermos disso, e pelo fato de enfrentar também o que isso significa, nos colocamos fora da zona de conforto na hora de recebermos o “se liga” dxs companheirxs e irmxs (será?).    

A incoerência das nossas “pregações”, das nossas falas, se expressa no cotidiano das nossas vidas, e é nas relações mais próximas que elas se explicitam, muitas vezes de forma cruel, porque umx revolucionárix não pode deixar de sentir amor, e um amor ferido pelos “ismos” traz rancor e dúvida sobre a própria revolução quando as incoerências passam da barreira do “inconsciente”. Como confiar nx companheirx de luta na hora do enfrentamento, se no dito amor não houve solidariedade? Fato é que as relações nessa sociedade são moldadas pelas diversas contradições que a mantém e nenhumx de nós em hipótese alguma poderia estar imune a elas.

Nossas ações, nossas falas, nosso comportamento, tudo se mostra e é de fato contraditório. Contudo, eu tenho me perguntado: até que ponto são essas contradições inerentes a essa sociedade? Até que ponto são o desejo conservador de manutenção dos privilégios e das formas de se relacionar? 

Sabemos bem que os mecanismos de controle são muitos em todos os âmbitos da vida, e a racionalidade hegemônica do e no capitalismo destrói amores. “Amores de família” se destroem pelos bens, um inventário causa estrago. “Amores de amigxs” se desfazem, afinal, aquelas bolsas e sapatos causam inveja. “Amores sexuais” são destruídos, o rancor da traição ocupa o lugar. 

Traição aqui é mais que sexo ou paixão ou amor com outrxs pessoas de fora do tabuleiro. Traição aqui é permissividade à falta de cuidado, permissividade à falta de solidariedade, permissividade ao ataque a alguém que se diz amar, permissividade ao desejo de transformar o outro em coisa. Traição aqui, é permitir que xs companheirxs reproduzam os “ismos” mais violentos, os pilares mais resistentes das formas como as relações se dão no capitalismo. 

Ouvi muitas vezes algumxs ditxs companheirxs se perguntando em tom reflexivo sobre a solidão da mulher preta, a impressão que nós temos é que nenhum homem está preparado pra nós. Talvez involuntariamente, inconscientemente, tomado pela mentalidade hegemônica que nos entende e nos quer transformar em “menos gente”, reproduzem os “ismos”, que mantém essa forma social desigual, violenta, agressiva e difícil de destruir. O homem branco, a mulher branca, o homem preto, a mulher preta, na hierarquia social é assim que nos dividem, e nós mulheres pretas faveladas, lá em baixo suportando todo o restante. Está ai mais uma característica dessa sociedade: tudo se hierarquiza pra manutenção do poder e dos privilégios. 

Mas, quais de nós (militantes, lutadorxs, homens e mulheres pretxs), que tem algum tipo de privilégio, seja ele qual for, ainda que dos menores na “escala social” está disposto a abrir mão? Quem de nós está dispostx a enfrentar a construção dessa corrente de privilégios que são reproduzidos, em cada "camada social", e que mantém a maldita pirâmide de pé? Quais dos nossos homens pretos estão dispostos a não reproduzir a opressão que vivem com aquelas que estão mais próximas e “abaixo”? 

O que dizer das mulheres pretas, nós desumanizadas desde que nos trouxeram pra essa terra, violentadas, agredidas, desrespeitadas todos os dias, tocadas sem permissão: pegam nos nossos cabelos, passam a mão nas nossas cinturas de supetão, falam da nossa bunda, da nossa boca, querem nos fazer ouvir coisas sem que queiramos... Enfrentamos e o esforço para o enfrentamento, já diriam na Bahia, é barril dobrado. O que dizer de nós, que como qualquer outro ser nessa sociedade reproduz os conceitos, práticas, moralidades, e que guarda consigo sentimentos e práticas como individualismo, hipocrisia, e a desconsideração por outrxs, muitas vezes, iguais a nós. 

Nós mulheres, pretas ou brancas, somos ensinadas que a beleza física (uma beleza eurocêntrica) deve ser nossa meta, somos ensinadas que nossos cabelos e narizes devem ser transformados para uma beleza que não é a nossa, nem de nossos ancestrais. Vivemos contradições, vivemos dores, conflitos, medos; vivemos amores, felicidades efêmeras, vivemos. Nós mulheres pretas, oprimidas pelo homem branco que nos vê como pedaços suculentos de carne, pela mulher branca que nos vê como o pedaço suculento de carne que sacia seus maridos e que alimenta seus filhos, nós oprimidas pelos homens pretos, que com seus poucos privilégios de machos acreditam que podem colocar sobre nossos ombros as responsabilidades sobre suas dores, seus sofrimentos, seus conflitos, e as violências que sofrem ou sofreram. E nós?

O que dizer de nós, mulheres pretas, que nos relacionamos entre nós como as brancas, que disputam imagem, que disputam outros seres, quase sempre homens. Minha reflexão nesse sentido se dá por experiências vividas por mim em ambos os lados: fui a mulher preta que não mereceu solidariedade, mas também fui a mulher preta que reproduziu seu individualismo, egoísta. Tenho lido coisas de mulheres pretas, somos nós chamando atenção de nós mesmas pras nossas práticas e pros nossos discursos. Somos nós falando entre irmãs, somos nós que nos chamamos assim: irmã pra cá, irmã pra lá. E apartir dessas mesmas experiências tenho pensado sobre o sentido dessa irmandade. Tenho Irma de sangue que não é minha Irma por vários motivos, tenho Irma de vida que o é por vários motivos, e tenho as irmãs de cor, que me chamam de Irmã por eu ser mulher preta. 

E até certo momento, duvidei do sentido dessa irmandade que algumxs bradam pelas reuniões e atos nos quais a gente se encontra, afinal, como dito antes, as contradições estão na cena e os privilégios também, quem quer assumi-los ou perde-los? Para muitxs, irmx, tem sido a pessoa da mesma cor de pele, apenas, reproduzindo um “biologismo” da academia burguesa, a mesma que faz favelado dizer que (re)conhece a fome e não Marx. 

Irmxs são solidárixs, cuidam, alertam, formam, protegem, aprendem e caminham juntxs. As mulheres pretas que tem reconhecido esse sentido de ser irmã, tem colaborado com a eliminação da dúvida sobre o sentido dessa “irmandade”. 

Mas, o que dizer de nós que temos nos permitido ignorar a nossa “irmandade”, que deveria nos fazer apoiar umas às outras, para que todas, sem exceção, participássemos da destruição dessa maldita pirâmide e acabássemos com os privilégios, porque nenhum homem quer perdê-los. Nós, que estivemos a frente de tantas revoltas, nós que todos os dias enfrentamos o racismo nas nossas relações, nós que lutamos pelos nossxs filhxs e irmxs; que temos força e coragem nas favelas pra enfrentar o Estado que quer nos matar. Nós não poderíamos em hipótese alguma nos permitir contribuir com o desrespeito à inteligência e humanidade de uma irmã. Humanidade não no que se refere ao físico apenas, mas à autonomia, ao direito de decidir, à liberdade, ao respeito. 

Os nossos corpos como propriedade, os colonizadores tiveram, e mantiveram durante séculos a fio, e não havemos de permitir que nenhum homem, nenhum! tenha esse tipo de relação conosco ou com uma irmã.


As nossas mentes foram livres, mesmo que de forma limitada, ou não teríamos vencido tantas pequenas batalhas desde que aqui chegamos arrancadas dos nossos tronos, e pensando nisso, minhas dúvidas não cessam, mas fazem querer a sabedoria, e a tranquilidade de entender que o que é pessoal, não pode ser privado quando se trata de algo que pra muitxs de nós é tão caro: o enfrentamento ao machismo, ao racismo, às relações que desumanizam, coisificam e contribuem para a manutenção das opressões, violências, e das relações capitalistas que nos tiram o direito de escolha, nos tiram a possibilidade de viver plenamente, nos transformam em coisa vendável e usurpável 

Eu estive tomada por um sentimento de tristeza, decepção, de dúvidas, por ver xs nossxs reproduzindo entre nós tudo que nos esforçamos pra enfrentar, contudo, como foi dito, o que é pessoal é público, e é político. Enquanto mulher preta e por todo o peso colocado em mim por essa sociedade racista e machista, enquanto mulher que fala de mulheres, que fala de vida, que fala de luta, eu não poderia me furtar de dizer o que penso e sinto. 

O que enfrentamos tem muito peso, os compromissos com a revolução ou transformação ou seja lá como x leitorx prefira, nos faz perder noites de sono, horas de diversão, dias de trabalho. Deixamos de ganhar dinheiro, abrimos mão da individualidade muitas vezes pra construir coletivamente uma outra sociedade pras gerações que virão. E essa construção parte da prática de cada umx de nós, e de todxs nós todos os dias, em todas as nossas relações. Eu seria omissa se não trouxesse essas reflexões a público, porque eu acredito em pessoas, e não vou deixar de acreditar por ter sido alvo da opressão e omissão daquelxs que pensei serem irmxs, daquelxs que entendi serem “dos meus”. 

Enfim, voltando ao inicio, falar de amor, de dor, decepção não é fácil, mas é um exercício necessário quando politicamente essas “pequenas questões” da vida cotidiana são a destruição dos poucos caminhos construídos. Além disso, quando uma mulher fala de decepção, traição, opressão, desrespeito, ela quase sempre está “rancorosa”, “recalcada”, “é louquinha” e outros adjetivos que sabemos bem quais são, contudo, o medo de dizer não pode existir, nossas reflexões sobre as vivencias são o que nos dão possibilidade de “ter” uma práxis transformadora. Já diria Marighella, em outro contexto e por outros motivos, mas disse: é preciso ter coragem de dizer.

Havia um desejo de que as decepções e tristezas, virassem uma reflexão dentro do tabuleiro, mas o tabuleiro se rachou, nem os sentimentos mais tênues de confiança na causa comum foram suficientes pra fazer com que essas ideias fossem divididas com quem de fato deveria ter acesso a elas. As tentativas foram muitas, de que o respeito se sobressaísse no fim das contas, mas o machismo exacerbado, que não é o que culmina na agressão, mas o que culmina na culpabilização, na desumanização, no obrigar a deixar de ser , não permitiu que os ditos pares estivesses de fato ombro a ombro nas trincheiras pelo fim desse mesmo machismo, que desrespeita, desumaniza e agride... o mesmo machismo que mata todos os dias em todos os cantos. 


E como o facebook tem coisas boas, me apresentou Audre Lorde... 

segue um trecho de As cotações do unicórnio Preto 

"E quando falamos temos medo nossas palavras não serão ouvidas nem bem-vindas mas quando estamos em silêncio ainda estamos com medo Por isso, é melhor falar lembrar nós nunca fomos feitos para sobreviver "

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O capitão do mato já não quer capturar.


Disse Loïc Wacquant em seu livro As Prisões da Miséria: “… a insegurança criminal no Brasil tem a particularidade de não ser atenuada, mas nitidamente agravada pela intervenção das forças da ordem.” (WACQUANT, 2001).
No centro da cidade, principalmente, trabalhador@s são agredid@s, pres@s, desrespeitad@s enquanto trabalhador@s, enquanto cidad@s, enquanto seres humanos. Nas favelas “pacificadas”, trabalhador@s tem seus momentos de lazer e descanso interrompidos pela autoridade de “uma tal” Resolução 013. Nas favelas não “pacificadas” somos constantemente atacad@s pela presença terrível de uma máquina de matar.

Manguinhos tem estado diariamente na pauta dos grandes jornais, seja pelas incursões policiais que assassinam trabalhadores e os ditos não-trabalhadores (como se fizesse muita diferença considerando a desigualdade que nos assola), seja pela cracolândia onde jovens perdem o sentido do que é estar vivo.
Há algumas semanas tenho visto aquela maldita máquina parada em esquinas próximas à favela, a sensação é terrível, de Insegurança, indignação, revolta. Provavelmente algum@s se perguntarão: “revolta? Tá devendo?”. Tranquilamente, respondo: “não, mas este Estado me deve”. Deve respeito, segurança, e liberdade, a mim e a tod@s nessa cidade. Aquel@ que se sente segur@ perto de uma máquina mortífera não pode estar bem da cabeça, ou vive no mundo de Cabral e seus comparsas: andando pela zona sul em seus carros blindados e acompanhados por seguranças, violando o direito de ir e vir alheio.
Ontem a noite @s morador@s de Manguinhos que se sentiram a vontade para caminhar pelas ruas da favela onde vivem acabaram mais uma vez desesperad@s. Mais uma vez a assombração se mostra na parte escura da favela. Que tipo de ação se espera de uma arma como essa no meio da noite em local dito “de risco”? Segurança? Sinto confirmar seu pensamento caro leitor, mas não. Como moradora desse lugar onde as pessoas tentam sobreviver apesar de tudo, apesar da “violência”, apesar do esgoto que volta todos os dias para suas casas (inclusive quando não chove), onde as pessoas sorriem e choram com as “coisas da vida”, aqui onde o Estado só chega com sua mão pesada, seja pela polícia ou por suas políticas que de públicas só tem o nome, o capitão do mato não chega pra aprisionar somente, ele quer mais, quer eliminar a nossa raça.
Em 03/06/2012.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Curso de Comunicação Solidária


Você curte Redes Sociais, Novas Mídias, Vídeo, Fotografia, Rádio, Jornalismo, WebDesign ou Artes gráficas?
Que tal aprimorar suas habilidades e transformar suas opiniões em campanhas de comunicação?

Então participe do Projeto
RIO GERAÇÃO CONSCIENTE
Curso Comunicação Solidária

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico Solidário da Prefeitura da Cidade do Rio 
de Janeiro, associada ao Ministério da Justiça e à Fundação Oswaldo Cruz, comunica
que estão abertas as inscrições para o curso Comunicação Solidária do projeto RIO 
GERAÇÃO CONSCIENTE.
Com 600 horas/aula e 10 meses de duração – de março a dezembro de 2012 – o curso 
Comunicação Solidária do projeto RIO GERAÇÃO CONSCIENTE será realizado nas 
comunidades 

CANTAGALO, PAVÃO e PAVÃOZINHO, em parceria com o Museu de Favela
MANGUINHOS, em parceria com o Laboratório de Direitos Humanos/Rede CCAP
MARÉ, em parceria com o Observatório de Favelas/Escola de Fotógrafos Populares

Com o curso Comunicação Solidária, o projeto RIO GERAÇÃO CONSCIENTE tem por 
motivação promover, nessas comunidades, o debate 
COMUNICAÇÃO, UM DIREITO DE TODOS

Neste propósito, oferece oficinas para o desenvolvimento de habilidades em
linguagens de comunicação (vídeo, fotografia, artes gráficas, design gráfico, web 
design, reportagem, produção de rádio, redação e edição de textos) e aulas formativas 
em Direitos Humanos, História da Arte e Ciências Sociais. 

Os três meses finais do curso serão dedicados ao desenvolvimento, pelo coletivo de alunos, de uma campanha de 
publicidade social, em torno do tema Comunicação, um Direito de Todos. 

As aulas formativas constituem o Núcleo Comum do curso. Já as oficinas em 
linguagens de comunicação se diferenciam por áreas de ênfase que contemplam e 
respeitam a tradição, a experiência e o repertório de cada uma das três comunidades.

O curso Comunicação Solidária do projeto RIO GERAÇÃO CONSCIENTE é aberto a todos 
os jovens, a partir de 16 anos, com ensino fundamental.

Inscrições: de 13 de fevereiro a 9 de março
Início das aulas: 19 de março

se quiser fazer o curso em Manguinhos:
PEGUE A SUA FICHA DE INSCRIÇÃO AQUI

Confira abaixo onde se inscrever e as áreas de ênfase de cada comunidade:

MANGUINHOS
Laboratório de Direitos Humanos de Manguinhos / Rede CCAP
Área de ênfase: Audiovisual
Também oferece Webdesign, Edição Gráfica, Rádio e Fotografia
(21) 2281-6430

CANTAGALO, PAVÃO E PAVÃOZINHO
Museu de Favela
Área de ênfase: Arte e Memória
(21) 2267-6374

MARÉ
Observatório de Favelas / Escola de Fotógrafos Populares
Área de ênfase: Fotografia
(21) 3105-4599


-- 
Via 


Laboratório de Direitos Humanos de Manguinhos - LabDHM/RedeCCAP

(21) 2281-6430

sábado, 7 de janeiro de 2012

A Mulher nas Capas do Meia.


Em 2005, o grupo dono do Jornal O Dia, jornal popular do estado do Rio de  Janeiro, lançou o Jornal Meia-Hora, uma espécie de tabloide que teria em suas páginas a mesma qualidade de notícias, em menor espaço e com um custo muito menor para o leitor. Com slogans do tipo “Nunca foi tão fácil ler jornal” e “Se tempo é dinheiro meia hora é só R$ 0,70”, o jornal foi lançado com o intuito de atingir um público que segundo o site Wikipedia: “não tem recursos e/ou tempo disponível para ler jornais”. Uma pesquisa feita pelo próprio grupo O Dia teria chegado a essa conclusão, tendo então determinado como seu “segmento alvo” as classes C e D.

Depois de seis anos de publicações, o Meia-Hora é reconhecidamente um 
jornal de grande circulação, mas que recebe inúmeras críticas quanto à linguagem 
informal, principalmente pelo uso de gírias. 

Vale ressaltar a atual conjuntura cultural e social do Brasil, na qual os meios de comunicação são parte de grandes grupos midiáticos, o que se coloca como um desafio ainda maior no que tange à desconstrução desses modelos. 
Esses grandes grupos (que segundo algumas organizações da sociedade civil seriam compostos hegemonicamente por 11 famílias) controlam a maior parte do mercado de                                                         comunicação, fomentando e reproduzindo muitas vezes relações de opressão, preconceito e criminalização, visando a manutenção da ordem burguesa tal qual a conhecemos no século XXI. 


Nesse sentido, falar de gênero, assim como falar de qualquer outra construção/conceito histórico, é atentar para o momento e o local de onde se fala e para quem se fala. Ou seja, pensar e entender que: “a atribuição de espaços sociais diferenciados para homens e mulheres; é uma situação de discriminação feminina que lembra outras, presentes em diferentes momentos históricos, em diversas partes do mundo. Os processos que conduzem a essa situação não são idênticos e é importante prestar atenção às particularidades de cada caso. Mas há algo em comum, toda discriminação costuma ser justificada mediante a atribuição de qualidades e traços de temperamento diferentes a homens e mulheres, que são usados para delimitar seu espaço de atuação.” (ADRIANA PISCITELLI



Pensar a forma como as mulheres são mostradas e/ou se mostram na mídia hoje, é pensar seu papel historicamente construído, é pensar também como essa mulher se vê enquanto sujeito e pauta na imprensa escrita e falada. Além de buscar estratégias de luta uma vez que as relações se reconfiguram em cada momento histórico. 
O que vemos hoje é o recrudescimento dessas relações nas quais as mulheres são reduzidas a coisas, a mercadorias e muitas vezes, de acordo com a referencia realizada, a seres não pensantes. 

Historicamente nós mulheres fomos oprimidas, vivemos a mercê das vontades do pai, do irmão, do marido e assim por diante, sempre “sob a tutela” de um homem. Além disso, o papel feminino na sociedade capitalista e em várias outras, esteve e ainda está ligado a uma imagem de sensibilidade, maternidade, submissão, entre outras dimensões, fato que deve ser destacado nesta discussão. 

Em tempos neoliberais, a ideologia hegemônica abarca dentre outras formas de ver o mundo, aquela que entende que mulher deve ser bonita, elegante, ter os cabelos lisos e se possível louros (considerando a cor de sua pele). Quando o "ser bonita" significa ser branca, magra, vestir-se bem - no sentido de ter acesso às marcas mais caras do mercado - e estar com o corpo na melhor forma, que por sua vez significa além de estar magra, ter seios e bumbum avantajados, se possível través da utilização de próteses de silicone (fato também reprovado por alguns atores deste debate). Quando não seguindo esse padrão, a mulher deve, por uma espécie de convenção subjetiva, seguir o modelo de mulher colocado nas grandes produções de novelas que tendem a ser muito parecidos. Como por exemplo, quando se tem uma protagonista negra na novela de maior audiência, nesses casos é possível que as mulheres negras que tem cabelos crespos “estejam na moda”. Ainda assim, a protagonista mantém uma lógica de comportamento submisso, da mulher branca de classe média e que vive em um mundo surreal, que é adaptado à realidade das muitas mulheres atingidas por esse meio de comunicação. Referente a essa temática Piscitelli (2009) faz uma leitura interessantíssima sobre as discussões das feministas do “Terceiro Mundo” quando coloca que: 

“... As mulheres negras, quando escravizadas não foram constituídas como mulheres do mesmo modo que as brancas. Elas foram constituídas simultaneamente e termos sexuais e raciais como fêmeas, próximas dos animais, sexualizadas e sem direitos, em uma instituição que as excluía do sistema de casamento...” 

Faz-se necessário, atentar para outra questão muito importante: cada um dos itens que compõe a “mulher ideal” ou o “modelo de mulher” estampado na capa do Jornal Meia-Hora do Rio de Janeiro – e na maior parte dos meios de comunicação brasileiros – é motor de grandes mercados (guardadas as devidas proporções, fundamentalmente considerado as camadas às quais o jornal atende, ou seja, as camadas mais mal remuneradas da sociedade). Sejam eles os mercados de grandes marcas, de produtos cosméticos, de clínicas de estética ou mesmo o mercado da grande mídia. Além disso, o conteúdo do jornal atua no sentido de reafirmar a submissão da mulher, comparando-a frequentemente a um objeto, ligando sempre sua imagem a submissão em relação ao homem especificamente ou 
ainda fomentando estereótipos. 



Nas capas do referido jornal, estão colocadas inúmeras situações envolvendo mulheres. Algumas chamadas, as menosprezam na relação amorosa, por exemplo, o casal teen Selena Gomez e Justin Bieber, foi fotografado em um passeio romântico, mas a cantora foi chamada de “peguete”, gíria usada para se referir a parceira como um passa tempo, onde não haveria uma relação de compromisso entre o homem e a mulher. Isso reflete a idéia de que o homem “por natureza” seria passível de ter vários relacionamentos amorosos ao mesmo tempo, enquanto a mulher que estaria nessa relação não representasse mais que um objeto para aquele parceiro que pode estar com ela e com outra sem maiores preocupações com a opinião alheia, um comportamento socialmente aceitável, uma vez que homens seriam “naturalmente” infiéis. 


A naturalização das relações entre homem e mulher pode ser analisada por diversos aspectos. Muitos autores renomados que fizeram e fazem análises a esse respeito, demonstram que essas relações, assim como as instituições que as mantém sob uma ideologia hegemônica, foram historicamente construídas em diversas sociedades e em muitas culturas diferentes. Nelas, homem e mulher tem papéis sociais baseados em uma cultura dada sob um modelo “legitimado pela natureza” principalmente no que tange à reprodução humana, na qual a mulher teria o papel principal de reprodutora da vida em âmbito privado, enquanto o homem participaria dessa relação atuando no âmbito público, consequentemente na sociedade capitalista mais especificamente, nas relações que se dão no mercado e na produção material. 


Para M.J. IZQUIERDO , em vez de estudarmos “machos e fêmeas” de forma habitual, há de se pensar as relações como “produto da interação entre natureza e cultura”. Uma vez que as condições biológicas estão postas, não há possibilidade de ignorá-las, assim, a autora faz uma análise importantíssima da mesma forma que outros nomes importantes dentro dessa temática. 


Sendo assim, é possível perceber nas inúmeras chamadas do jornal, que a imagem da mulher está sempre ligada em alguma medida a situações naturais ou ainda a animais como em certa chamada de notícia na qual a referência feita à modelo paraguaia Larissa Riquelme é a de potranca paraguaia. 



Colocando em questão a forma de representação dada a homens e mulheres ao “masculino e o feminino” nas capas do referido jornal, não é difícil perceber que mulheres são colocadas como seres inferiores e por isso submissos e menos inteligentes, ou resumidas a sua beleza física (atentando sempre para que beleza é essa, conforme citado anteriormente). Um exemplo disso foi a chamada para uma matéria que citava uma ex-participante de um reality show como leitora assídua do jornal em questão: a gente já sabia, além de linda, Pri é inteligente. O que a meu ver caracteriza o ideário de que as mulheres bonitas, em regra, não seriam inteligentes, ou não poderiam ser. 



Nessa discussão não se pode fechar os olhos para as questões de casse que com um olhar mais cuidadoso podem ser identificadas nas chamadas do jornal. Aquelas mulheres que aparecem nas noticias por qualquer outro motivo que não venha em função da fama, ou da grande mídia, vai haver em regra, referências pejorativas, e ainda mais agressivas, principalmente quando a noticia trata de algo ligado a crimes ou práticas ilícitas, como é possível perceber na figura a seguir:



Considerando além das relações de gênero e classe, cabe citar também as questões de raça, a notícia citada não tem fotografias e não mostra a raça/etnia da mulher em questão, mas considerando os números apresentados nos órgãos de segurança e certa empiria, que demonstram que as mulheres que são presas tentando ingressar no sistema penitenciário com drogas ilícitas, em sua maioria são negras, pobres e moradoras das periferias da cidade. 

Ainda nesse contexto Izquierdo ao falar sobre as bases sociais do sistema gênero/sexo fala sobre os modelos que se impõem sobre as pessoas em função de seu sexo. Para tal ela cita Marx, em sua Contribuição Crítica à economia Política: 

“Na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade. Estas relações de produção correspondem em grau de determinado desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política a qual correspondem formas sociais determinadas, de consciência. Não é a consciência dos homens o que determina a realidade, ao contrário a realidade social é a que determina sua consciência”. 


Ainda que tenha buscado inserir nesta discussão autores que tratam da temática de gênero, o tempo de pesquisa, o pouco tempo de discussão podem não ter sido suficientes para uma boa análise, contudo, esta não se encerra aqui, uma vez que as capas deste importante meio de comunicação podem ser discutidas inúmeras vezes dentro da temática de gênero, de classe, de raça/etnia, enfim. 

Cabe dizer mais uma vez que grande parte das camadas populares da cidade tem acesso a esse jornal, que sua circulação se dá em grande escala e que estão colocadas em suas páginas referências que colocam a mulher como um ser resumido a uma beleza estética, ou ao delito cometido ou ainda como “monstro” em situações que envolvem crianças. Principalmente quando essas mulheres-mães não atendem às expectativas sociais, que as determinam como grandes responsáveis pelo cuidado com a família. Não foi possível recuperar as capas que tratam desses casos, porque aconteceram fora do período de acompanhamento das notícias. 

 Sendo assim as estratégias devem ser discutidas coletivamente, principalmente porque os próprios sujeitos envolvidos, estariam sempre em uma posição alienada e sem discussão a cerca dessas questões que estão sendo naturalizadas no nosso cotidiano, sobre isso cabe citar outra autora:

“[...] Assim, parece “natural” que caiba ao sexo feminino uma série de tarefas associadas ao papel que a mulher ocupa no processo reprodutivo. O cuidado com a prole é sempre destinado às mulheres, mas este se situa para além do papel propriamente reprodutivo. Entretanto, ainda assim recebe uma carga de atributo pré-social da condição feminina. As mulheres  estariam assim, ideologicamente, representadas como mais presas ou imersas no plano natural do que os homens [...]." (MARIA LUIZA HEILBORN)

 As capas do jornal Meia-Hora revelam mais do que estas poucas linhas tentaram expor. A forma como os meios de comunicação de massa existentes no Brasil, em sua maioria mantém a reprodução dessas relações marcadas pela submissão feminina e em alguns momentos como em muitas capas e matérias do Jornal em questão, pelo desrespeito à mulher como sujeito de direitos e protagonistas de lutas que a cada dia se colocam de forma impar, mas que ainda assim são ignoradas. 















sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Na verdade: Obrigada!

Nesse dezembro, eu disse a mim mesma: esse ano não quero desejar Feliz Natal/Ano Novo a ninguém... 
Não por estar chateada, triste ou coisa do tipo, só acho que não tem importância.
Hoje, me peguei pensando novamente nisso, e ao fazer um balanço desse ano, atentei para um detalhe: o ano não foi dos piores. 
A vida me reservou grandes tristezas nos últimos anos, tristezas essas que foram além, e que se tornaram experiencia, pura e simples.
A cada ano que passa, eu aprendo, não fui mandada pra esse mundo a toa...
Não fui moldada pra deixar passar. 
Por isso, eu me permiti dividir as impressões que guardei desse ano... 
Não todas, seriam muitas. Mas algumas, que também não são as mais importantes, mas que devem ser socializadas. 
Nesse ano, eu descobri o que me faz feliz, eu descobri também que eu posso mais do que eu imaginei, e que alguém estava certo quando disse: eu confio e sempre confiei que você conseguiria. 
Consegui o quê? continuo pobre, continuo "fora dos padrões de beleza", continuo briguenta, continuo "chata"....
mas estou mais certa do que quero, consegui me libertar das amarras desse mercado de trabalho que nos suga, aderi a uma nova forma de atuação, encontrei novos objetivos e me tornei mais madura.

Nesse ano, passei por mais uma perda, que reforçou a ideia de que não somos absolutamente nada de importante, nossa vida é um fio de cabelo, e a vida deve ser intensamente vivida, e que os nossos medos precisam ser superados, principalmente em favor da nossa liberdade, felicidade e completude. 

Quero agradecer a vocês minhas/meus amig@s,

da minha família,
da universidade,
das baladas,
dos bailes,
das lutas,
dos trabalhos,
dos bares,
da favela, 
do facebook,
etc, etc, etc ... 

quero agradecer de forma especial, aquel@s que nos momentos de angústia estiveram ao meu lado, que me abraçaram, que ajudaram a secar minhas lágrimas, fossem elas de dor, de alegria, de angústia, ou simplesmente "de" vontade de chorar....

Obrigada a tod@s que de alguma forma fazem parte da minha vida ....

Tenham um ano novo maravilhoso, com luz, sabedoria, saúde, alegria, amor,     e força, muita força! 





sexta-feira, 8 de julho de 2011

SOS EDUCAÇÃO... ô orgulho!

Há algumas semanas @s professor@s do Estado do Rio de Janeiro estão em greve. Ganham mal, não tem condições de trabalho, são obrigad@s a passar por uma série de problemas, constrangimentos e ameaças. Não tem autonomia, não conseguem se aprimorar e sofrem com todos os rebatimentos que qualquer categoria profissional sofre dentro desses modelos de políticas sociais falidas, com o agravo de que estão formando “o futuro do país”...
Essa semana minha mãe recebeu uma ligação da escola do meu irmão - Colégio Estadual Luiz Carlos da Vila, escola modelo, inaugurada recentemente pelo então presidente Luis Inácio “Lula” da Silva no Complexo de Manguinhos (que na verdade está localizada em Benfica) – do outro lado da linha, a secretária dizia ser necessária a presença d@ responsável pelo aluno para uma reunião com a diretora “por problemas disciplinares”. À tarde o moleque chega em casa dizendo ter “descoberto” o motivo da reunião (que não foi informado aos pais no momento da ligação): ele e mais algum@s alun@s protestaram pela educação, não respondendo ao cartão de respostas de uma prova de avaliação que tem o melhor estilo ENADE. E não foi só isso, a molecada colocou no local das respostas um "S.O.S EDUCAÇÃO"... \o/
Depois de chegar ao local da reunião com 30 min. de atraso, a diretora Claudia, iniciou sua explanação muito calmamente (uma vez que os pais e as mães já se mostravam impacientes) falando da importância da “tal” prova na avaliação “do que precisa melhorar na educação” da molecada. Ao apresentar o que houve, frisando sempre que não estava ali para declarar seu posicionamento sobre o ocorrido e sim para colocar os pais e mães a par do que houve ela mostrou o resultado, do que eu considerei uma excelente demonstração de que a juventude questionadora não está perdida: os cartões de resposta, com a resposta do que @s alun@s consideraram ser o correto.
Os pais e mães aprovaram o protesto d@s filh@s, declararam sua insatisfação com a “escola modelo” na qual @s alun@s já sofrem com a falta de professor@s desde antes da greve, ou seja, o fracasso desse modelo de educação está tão falido na “escola modelo” quanto nas outras, e mais: existe um claro indício de que noss@s alun@s do Ensino Médio estão sendo formad@s para os tecnólogos da vida. El@s só precisam provar que aprenderam bem Português e Matemática, já que o governo do estado só avalia essas duas disciplinas.
Segundo um aluno que estava presente na reunião e que fez a prova, o nível de avaliação é tão baixo que exige interpretação de texto em perguntas do tipo: Ana foi à padaria... Onde Ana foi?
Levando em consideração o que foi dito por alguns alunos quanto à avaliação perguntei a professora Claudia se aquele SOS Educação, não significou que @s alun@s queriam demonstrar que não se sentem preparados para ser avaliados e a resposta dela? O silêncio.
Sendo assim, eu que estive naquela reunião e que acompanho a atual situação das escolas de ensino médio do Rio, e mais, que acompanho os noticiários, entendo que essa prova, de nível tão baixo, só quer maquiar o momento em que vivemos: somos o penúltimo estado no ranking de educação...
Precisamos alimentar essa necessidade que os jovens vem sentindo de questionar o ensino que estão tendo, precisamos encorpar a luta d@s professor@s desse estado. Cabe dizer também, que no dia daquela reunião: 30/06/2011, professoras representantes do sindicato foram proibidas de entrar na escola...
Saudações...

sábado, 30 de abril de 2011

@s Que Virão

Descobri que o Movimento Estudantil, pode fazer diferença, não só nas universidades (públicas e pagas) mas que pode fazer a diferença na luta por uma sociedade diferente. Uma sociedade igualitária, justa.

Passamos recentemente por um momento histórico no Movimento  Estudantil do Serviço Social: o 33º Encontro de Estudantes de Serviço Social da região V (Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) terminou com a eleição de uma nova "equipe" que vai atuar na ENESSO (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social) que propôs que @s estudantes sejam efetivamente construtor@s de um ME legítimo, que quer um ensino de qualidade e gratuito para tod@s, não só para um pequeno grupo. Porque sim! compas nós somos um pequeno grupo, um pequeno grupo que precisa lutar, e não simplesmente se acomodar em suas posições de estudantes universitários da UFRJ, enquanto a maior parte da população brasileira, ou não tem acesso à Universidade Pública, ou vende sua força de trabalho para poder estudar.

A chapa Metamorfases, que concorreu a ENESSO, e que foi vitoriosa com 85% dos votos das escolas de Serviço Social, na cidade de Vitória-ES, reuniu estudantes dos três estados, de escolas públicas e pagas e que decidiram juntamente com outr@s (pelomenos) 20 estudantes, mostrar que não estão satisfeit@s com a forma que o MESS vinha sendo conduzido. 

O que queremos é que o MESS seja efetivamente para @s alun@s, que nossas "pequenas" demandas não sejam deixadas de lado. É claro, que temos consciência de que essas "pequenas demandas" - como o racionamento de papel nos banheiros - é resultado de uma política que vem destruindo aos poucos a universidade...

Por isso nós chamd@s de "INDEPENDENTES" nos reunimos e criamos um novo coletivo, que traz novas idéias, não com o intuito de partir o MESS, mas com a necessidade de somar e colocar as nossas necessidades em destaque, buscando trazer para a luta, companheir@s de "sofrimento", porque amig@s, nós estamos sendo atacados, a universidade não precisa só ser gratuita, precisa ser de qualidade. Essa degradação que vem nos atingindo ou a "precarização" que está posta, só fortalece o discurso do capital, daqueles que querem o lucro...

Por isso o Coletivo @s que virão, se reuniu, e decidiu que  vamos lutar pela nossa universidade e por uma sociedade justa, onde tod@s tenhamos acesso,a um ensino gratuito e de qualidade... 

Segue abaixo os princípios que vão nortear nossas ações:

1. Autonomia :
Os movimentos sociais devem ser autônomos para que as demandas de seus componentes sejam o foco da luta, não o de qualquer outra organização externa. Somos apartidários (mas não antipartidários), independentes de governos, empresas ou qualquer entidade/organização/coletivo que torne nossas demandas secundárias.

2. Anticapitalismo:
Nossas lutas por igualdade, justiça, fraternidade e liberdade não cabem nesta sociedade capitalista. Assim entendemos que nossos objetivos só serão alcançados com a desconstrução desta sociedade e construção de outra. Entendemos a luta de classes como um fator central e optamos pelos interesses da classe trabalhadora.

3. Somos contrários a toda forma de burocratização:
que limita os espaços do movimento estudantil a pequenos grupos ou organizações ou espaços antidemocráticos.

4. Entendemos como central à luta do movimento estudantil a articulação com outros movimentos sociais para o fortalecimento da luta d@s trabalhador@s.


5. Pluralismo:

queremos um movimento plural com a articulação de várias ideologias com coerência frente a estes princípios e desejem se articular de forma democrática e horizontal.

6. Horizintalidade:

Defendemos um movimento construído por todos e todas, sem coronelismos políticos, através da construção coletiva de novas práticas, cultura e valores consonantes com a construção de uma nova sociedade de tod@s.

7. Construção pela base:
Defendemos que o movimento social precisa ser construído através da das demandas reais d@s estudantes, de baixo para cima, pela base e sem estruturas que distanciem as deliberações do coletivo de estudantes.


8. Democracia direta:

Como forma de tocar nossas lutas, entendemos que é central o planejamento e construção de tod@s através da democracia direta que entende a participação direta do grupo nas deliberações gerais.

9. Um movimento que combata toda forma de opressão:

Porque machismo, misoginia, homo/lesbofobia, racismo, xenofobia, preconceito ou qualquer forma de opressão são avessos ao processo de construção de uma sociedade livre e igualitária.*
 
Junt@s queremos ser alternativa para construção de um movimento forte, amplo e democrático na luta do Movimento estudantil de Serviço Social! Somos...
 
"@S QUE VIRÃO..."


Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente - 
na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros. )
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.



De Thiago Mello.