sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Na TV

Que tipo de informação temos engolido todas as manhãs…?

Que tipo de idéias estão sendo colocadas na nossa cabeça sem que percebamos?

Que tipo de valores estamos incorporando? 

Acredito que a maioria de nós, não se faz essas perguntas no dia a dia, durante os programas de TV e na leitura dos jornais. 

Hoje, pela manhã no RJ no Ar da TV Record, o apresentador Gustavo Marques, apresentou uma triste notícia que dava conta do assassinato brutal de um menino de 13 anos, em uma comunidade da Ilha do Governador, aqui no Rio de Janeiro. 
Ao falar sobre o caso, Gustavo deu espaço à dúvida sobre a ”história” de que o assassino, um rapaz de 23 anos, seria usuário de crack e teria assassinado o menino para roubar o dinheiro que este havia recebido pela venda de salgadinhos nas proximidades do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, ou o Tom Jobim, ou ainda antigo Galeão, também na Ilha do Governador.
Gustavo declarou que “é preciso ter cuidado e descobrir se o rapaz é usuário de crack mesmo, porque está virando desculpinha essa coisa de ser usuário de crack ou então de que estava possuído... (sic)”
Como sempre, utilizando cenas da dor de pais e amigos do menino, Gustavo chamou atenção para o discurso da mãe, que disse ao menino para que não fosse trabalhar vendendo salgados, já que seu pai, com esforço, conseguia comprar as coisas que ele quisesse (como), assim como pagava cursos e coisas do tipo. Ainda segundo a mãe, o menino enxergava duas possibilidades de subsistência na comunidade da Vila Juaniza: trabalhar ou “virar vagabundo”.
Ele disse que queria comprar roupas de natal, e que queria trabalhar, porque era “trabalhador”…

Diante do discurso da mãe abalada pela perda violenta do bom filho de 13 anos, Gustavo montou o seu:

“… que cabeça boa tinha esse menino, hein? Tão especial, aos 13 anos de idade, demonstra uma maturidade… queria trabalhar, que exemplo…”

Não me surpreendi com as declarações do apresentador em nenhum momento, uma pessoa de visão imediatista, está ali falando todas as manhãs com os trabalhadores do Rio de Janeiro, não sem um propósito. Nos dá uma visão limitada e equivocada da realidade.
Um menino de 13 anos, não deve ter declarações “maduras” não deve ser exemplo porque quer trabalhar, e porque enxerga que, morando numa favela só tem duas opções: trabalhar ou ser traficante. As declarações daquela mãe trabalhadora, moradora de favela, deveriam ser para nós um alerta. 

Que crianças estamos formando, por que as crianças não podem simplesmente ser crianças? 

Seja na favela - onde a mãe quer que o filho trabalhe desde cedo para ajudar a família e fugir do ambiente corrompido - seja no asfalto da classe média “alta”, onde os pais entopem a agenda de seus filhos com cursos de recreação diversos, aula disso ou daquilo, para que não corra o risco de ficar “a toa” a mercê das más companhias, nossas crianças estão crescendo antes da hora. Nossos adultos serão cada vez mais alienados, a violência estará cada vez mais posta como natural “fazendo parte”. 

Imaginemos quant@s de nós incorpora esse tipo de opinião, e esquece que tod@s queremos um mundo melhor para noss@s filh@s...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Cruzamento

Com pele queimada de sol e usando um espanador, que outrora servira de vestimenta, o rapaz de olhos cor de mel, limpa o vidro.

Recebe como cumprimento a gozação do motorista, e mostrando-se gentil devolve um sorriso ainda completo.

Tem uma aparência de pessoa saudável, mas, aquele cruzamento – a “zona do medo” – determina quem é aquele rapaz:

usuário de crack tenta conseguir um trocado para a próxima pedra, depois de conseguir o suficiente para necessidade imediata, atravessa a rua e entra na favela… por fim alivia a dor.

Sem sair do lugar, ele consegue voltar a casa, rever amigos… quem sabe reconhecer a mãe no café-da-manhã.

O efeito passa…

E o ciclo recomeça…

De volta ao cruzamento…