terça-feira, 28 de outubro de 2008

Eduardo Paes... prefeito....

Há muito não passava por aqui, ontem pensei em comentar a vitória de Eduardo Paes, mas o meu humor não me permitiu, até porque ao invés de ser um texto interessante aos meus pouquíssimos leitores (não é Edu?), seria uma verdadeira agressão.

Que os jogos comecem...

Mais uma vez elegemos um político novo, com velhos hábitos políticos...
Apesar de Gabeira também não ser o meu “prefeito dos sonhos”, creio que ele foi nossa melhor opção, e que jogamos por terra a oportunidade, de talvez, criarmos um ambiente político diferente aqui na cidade Maravilhosa.
Foi uma batalha importante, perdida provavelmente por pequenos detalhes como o apoio do Prefeito “francês” César Maia, ou pela abstenção dos eleitores de classe média alta que puderam viajar no “feriadão”.
Mas, seja o que for, foi um diferencial ruim.
Temos agora um prefeito de velhos hábitos, como abrir as secretarias a “parceiros” das coligações que o ajudaram a vencer...
Pura politicagem, o cara trocou de partido como quem troca de roupas, vendeu o seu bom senso, humilhou-se em busca de uma “parceria” com o Presidente depois de ter jogado no ventilador seus podres e até mesmo ter feito críticas, que eu Monique, considerei algumas, de cunho pessoal, vergonhoso!
Foi realmente uma disputa, que eu Monique, considerei suja, não sei se estou certa ou errada, e não quero convencer ninguém a me seguir em minha posição.
O que posso desejar como a maioria dos cariocas e das pessoas que sabem a real importância dessa cidade em vários âmbitos, é que, o Senhor Prefeito Eleito Eduardo Paes, faça um bom governo.
Fico decepcionada, por saber que temos medo de mudar... E por isso tenho vergonha... Mas o que poderia esperar, Rosinha Garotinho eleita, Núbia Cosolino, Eleita; Lindberg Farias, Eleito; Aparecida Panisset, ELEITA...
O que me chateia e me deixa muito triste e sinceramente envergonhada é que... As pessoas reclamam, reclamam, reclamam...
Não temos o poder, INFELIZMENTE, de tirá-los do poder, mas temos o poder de não presenteá-los novamente,
e não o fazemos...

Segue um texto que caracteriza muito bem o que quero dizer com tudo que expressei aqui...

Vergonha da Vergonha

Cristovam Buarque

Pelé é o maior patrimônio vivo do Brasil. Talvez em toda a historia brasileira ninguém tenha conseguido demonstrar de forma mais universal o gênio nacional. Por isso, choca ouvir o símbolo de nosso êxito afirmar que tem vergonha do seu país. Ao dizer isso, ele mostrou o sentimento de envergonhada indignação diante da pobreza, da violência, da corrupção na vida brasileira, especialmente entre os políticos e os que conduzem os destinos do pais. Maior ainda é a vergonha de perceber que Pelé, envergonhado como está com os destinos do Brasil, provavelmente votará, outra vez, escolhendo os mesmos que fazem o Brasil que o envergonha. Porque a elite brasileira prefere viver na vergonha a arriscar a perda dos seus privilégios.

Não é apenas ele. Em um de seus programas recentes, a grande apresentadora Hebe Camargo disse que, se fosse colocar os nomes dos corruptos um sobre o outro, a altura do auditório do SBT não seria suficiente.Ela falava lembrando o caso especifico de São Paulo, onde sempre votou nos que agora a envergonham. E aos quais certamente vai preferir, para não votar em nomes que representem um novo do qual ela tem medo.

A elite brasileira está descontente com o Brasil, mas nas eleições prefere que ele continue como está, a mudar ameaçando qualquer dos seus interesses e privilégios.

Quando a elite brasileira declarou a independência, preferiu manter um imperador, filho do rei da metrópole, para não correr o risco de um presidencialismo que poderia escolher algum plebeu, "antes que algum aventureiro lançasse mão". Quando libertou os escravos, não lhes deu terras, nem lhes permitiu freqüentar escolas, com medo de um Brasil onde os negros tivessem força. Proclamou uma republica, dizendo "façamos a revolução, antes que o povo a faça". Não deixou que ela fosse construída por meio da educação universal e de qualidade dos filhos do povo. Fez uma república aristocrática, com doutores e excelências no lugar dos condes e barões. Fez um desenvolvimento sem distribuir o resultado. E cada vez que alguma liderança propunha mudança de rumo, a elite envergonhada com a pobreza ao redor não tinha vergonha de dar um golpe militar para que a pobreza não fosse eliminada às custas de qualquer dos seus privilégios.

Em 1989, ofereceu-se a possibilidade de arriscar um presidente com proposta alternativa, mas a elite preferiu não arriscar. Não aceitou o risco de eleger um operário que nenhuma culpa tinha com o passado que envergonha. Preferiu um dos seus, apesar do passado de envolvimento nas vergonhas nacionais. Arrependeu-se envergonhada, mas quatro anos depois repetiu o voto nos mesmos partidos e políticos, ao redor de Fernando Henrique Cardoso, que ha décadas constróem a vergonha que ela diz sentir.

Eles mudaram o nome do candidato, para nada mais mudar. Agora, como Pelé, a elite manifesta indignação, vergonha, mas certamente vai repetir o voto. Votará naqueles de quem diz ter vergonha. Isso até poderia ser justificado, se as opções em vista representassem revoluções radicais. Mas todas são moderadas. Propõe-se construir um pais decente, com uma democracia republicana, que respeite o povo, onde os direitos a justiça, a segurança e a uma parte digna do produto nacional sejam assegurados a todos. Um país com escola para todas as crianças, sistema de saúde assegurado a todas as famílias, todo adulto com direito a um emprego.

Isso exige mudança de postura, inversão nas prioridades, eliminação de privilégios cada dia mais difíceis de manter. Em troca, oferece o orgulho de viver em um pais decente. Todos querem isso. Mas Pelé e o resto da elite não vão correr qualquer risco. Vão votar em um deles, que não represente mudanças. E daqui a anos voltarão a dizer que sentem vergonha.

Sinto um profundo orgulho de meu país, de um povo que é capaz de suportar tanto sofrimento, sem desesperar, de um país que tem um Pelé; mas sinto vergonha da vergonha que a elite diz sentir, e até sente, preferindo nela continuar, por medo de perder qualquer um de seus privilégios. Sinto vergonha de quem sente vergonha mas nada faz para eliminar as causas de sua vergonha.

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